IV TRILHOS DO PASTOR

25 de Março de 2012: 1ºdia do ano com a 'hora de verão'!...
....O Victorino ( 3º no escalão M60 e 102º da geral com 03h 48m 32s ) não adere de imediato a estas mudanças; o saber de 'experiência feita' recomenda prudência, por isso só de manhã é que decidiu ponderar seriamente no 'assunto da hora'..., mas, já era tarde demais e como o pneu do amigo Simão (do carro, evidentemente) decidiu ser 'finisher'... pum!..., acabou-se... quase na valeta..., resultado: o 'aquecimento' começou na zona de Minde e a 'corrida' muito antes da partida da prova que se iniciou em frente ao edifício da Junta da Freguesia de S. Mamede.
09h00m: Ao som do chocalho, início da prova com cerca de 29 Kms, percorrendo algumas das depressões e montes das serras d'Aire e Candeeiros, com uma passagem pelo interior das Grutas de Moeda, entrando-se por um túnel de 45 metros, e fazendo cerca de 350 metros no seu interior, antes de sermos lançados numa zona de caminhos e trilhos, com muita pedra e cascalho até subirmos aos moinhos de Cassaca. Lindos, ahn!... é evidente, que o Francisco Gaio ( espectacular 9º lugar na classificação geral e 4º no escalão M45 com 02h 33m 23s ) não repara nisto (aliás, nem costuma reparar nas fitas de marcação!..., enganar-se já é costume...), depois pergunta no fim, como eram as vistas!..., apesar de calçado de 'top', nem sempre vê o que pisa..., pobres pés, apesar de protegidos, sofrem a bom sofrer, aliás, se os dedos (de todos os trialistas evidentemente) tivessem olhos nas pontas (assim tipo por baixo das unhas...) e os ténis fossem abertos à frente, há muito que tinham morrido de susto, com tudo o que se passa por ali....com arrepiantes tangentes a tudo..., é evidente que de vez em quando há uma ou outra secante e então acontece o inevitável.... quedas bruscas e inopinadas (desta vez teve sorte, foi leve mas parece que deu para analisar com minúcia o que se passava no chão... deve ter estranhado haver pouca terra e muita pedra, e lá foi ele, de joelho em terra e mãos a ajudar!.., mas não foi só ele, conforme os relatos que no final se ouviram!...).
Muitas e muitas voltas em estreitos carreiros de pedras e mais pedras de todos os tamanhos e feitios, cada uma com a sua erosão própria e diversificada (todo o cuidado era pouco, mas não suficiente), aquelas encostas todas cobertas dum manto enorme de alecrim florido com o seu aroma inconfundível, e lá chegámos a Pia do Urso, local carregado de história, lendas e modernidade (desde o aproveitamento e recuperação das casas e calçadas, à existência do Ecoparque Sensorial, primeiro equipamento do nosso Portugal, totalmente vocacionado para a apreensão do meio envolvente por cidadãos de deficiência visual, onde pelo tacto e olfacto podem sentir a beleza do local, as 26 pias e as seis estações sensoriais, para de modo interactivo e lúdico perceberem melhor o ciclo da água, o sistema solar e evocarem alegorias históricas como os dinossauros, as tropas rumo a Aljubarrota e a evolução musical (gongo, xilofone, cabaça, castanholas.. )) e com um aproveitamento espectacular das condições naturais para usufruto dos locais e milhares de visitantes que por ali passam.
Aliás, este local já é ponto de encontro das 'excursões' não só nos dias de hoje, como nos tempos em que as vias vindas de Lisboa(Olissipo) e Collipo se juntavam à de Braga (Bracara Augusta), a caminho da capital da Lusitânea: Mérida. E tudo isto por causa das dezenas de reentrâncias nas rochas designadas por pias – este local constituía-se como o único de Porto de Mós a Ourém com grandes quantidades de água. Por isso mesmo, segundo reza a história, também por ali passaram as 'excursões' do Condestável (as suas tropas até daqui levaram pedras lascadas para atirar a nuestros hermanos em Aljubarrota) e mais tarde aquando das invasões francesas, mais uns 'roteiros turísticos' por estas bandas, aproveitados para as habituais pilhagens, massacres e rapina do património.
Já depois da Pia do Urso, quando dei por mim ( 3º no escalão M55 e 24º da geral com 02h 47m 05s ), é o que faz ir a pensar nestas coisas e a apreciar as vistas, 'catrapumba'..., grande espalhanço!... estendido ao comprido, bem esticadinho e a evitar bater com a cara num pedregulho!... como não sou 'habitué 'nestas 'incursões ao chão', hoje tive a dose completa destas experiências de contactar o 'chão que piso' com um forte e prolongado abraço, tendo direito a uma recordação bem marcante nas mãos, cotovelos, ombro e anca direita, ...e da força que fiz para não beijar a pedra, o pescoço e coluna têm que contar! É nestas alturas que se aprecia a solidariedade entre atletas, sobrepondo-se se necessário, à prova que estão a fazer, e com o consequente prejuízo na classificação. Os da frente pararam, os que iam aparecendo de trás igualmente, o Germano Capela insistia em saber se estava bem, o Rui Roberto forneceu água para ver os estragos nas mãos e tentar desinfectar...., mandei-os embora, pois ia desistir!... Abalaram, e eu recomecei a andar, depois a correr devagarinho..., estava decidido, tinha que aguentar, apesar de tudo não ia desistir!
A espectacular e íngreme descida para a priveligiada Reguengo do Fetal (onde todos os anos, o percurso da procissão de cerca de 800 metros é iluminado por milhares de lamparinas feitas com cascas de caracol, com azeite e um pavio ou uma torcida de algodão embebida em azeite) foi uma delícia (vantagem de ir devagar), com vistas de uma beleza surpreendente. Depois, as partes mais radicais do percurso, com escadas e cordas por causa do acentuado declives, passando pelo Buraco Roto, a Pia da Ovelha, o Vale do Malhadouro, do Malheiro e a Chaminé, e por aquela pedreira antes da parte final com chegada ao ponto de partida onde se foi recebido com muita animação, apoio da organização, dos companheiros destas aventuras e dos da queda, e duma ginjinha que soube às mil maravilhas (a ADoP não estava lá)!...
A Antonieta de Sá ( 2ª no escalão F40, 6ª feminina e 85º da geral com 03h 39m 56s ) é uma sortuda!..., a menina desta vez resolveu respeitar a integridade física e nada de danificar a cobertura dérmica....nem o esqueleto! Miúda com juízo, não gosta de estragar o que tanto trabalhinho deu a arranjar, ou então não gostou da experiência da última queda! (andou um mês a queixar-se, coitada!).
O Victorino (e mais uns quantos), como tudo lhe tinha corrido bem durante o percurso, quando estava a 500 metros do fim, resolveu efectuar uma segunda visita às grutas, antes de se dirigir para a linha de meta, e fez mais uns kms..., ou então achou que 29 kms era pouco e foi (foram) dar mais uma voltinha para descontarir!!!
Os primeiros a chegar foram o António Silvino (02h18m20s), o Pedro Marques (02h19m06s) e o Rui Pacheco(02h19m51s), seguidos do 'nosso' AXTrialista Marco Martinho (02h33m30s) da GoOutdoor/Roda de Ideias, que nos costuma presentear com excelentes aventuras. Das atletas femininas a mais rápida foi a Patrícia Serafim, seguida da Carmen Pires (a menina está a andar muito devagar!...teria sido a ausência do Custódio?) e da Maria Glória Serrazina.
Óptima organização, tanto na recepção como durante a prova com a colaboração de todos os voluntários, percurso a pedir meças a tantos outros com renome, banhos no colégio de S.Mamede, massagens a cargo do simpático e gentil par, Helena e Rui (FisioMassagem Alvitejo), almoço no salão, prémios para os três primeiros dos 4 escalões femininos(sim 4!..., e que sirva de exemplo a outras organizações, pois a crise não justifica tudo...) e seis masculinos! Com tanto borrego distribuído como lembrança, mais as ovelhas como prémio, o pastor deve ter ficado sem rebanho no redil!
E o convívio prolongou-se durante a tarde pelos cafés de S. Mamede!...

Por Arsénio Fernandes (atleta do Alvitejo)

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