1ª ESTAFETA AVIEIRA

Dia 1 de maio. Dia do Trabalhador. Dia de todos os trabalhadores; daqueles que lutam diariamente pelo "pão para a boca" e daqueles que já lutaram por ele. Sem desistir; sem baixar os braços; antes erguendo-os, perante as adversidades da vida, das más condições, da opressão, ou da exploração. É em homenagem aos trabalhadores de hoje e aos que atribuíram significado a este dia, que o 1º de maio se assinala, um pouco por todo o lado. Também em lugares "perdidos" no tempo, que apenas a memória e o esforço de preservação da cultura dessas comunidades, mantém vivos, ou teimam em reavivar e reviver. Tal como na "Barreira da Bica".
Integrada nas comemorações do 3º Dia do Avieiro, decorreu no dia 1 de maio a 1ª Estafeta Avieira. Organizado pela Associação para a Promoção da Cultura Avieira, o CCD o Alvitejo, o Industrial Desportivo Vieirense e as Juntas de Freguesia de Vale de Figueira e de Vieira de Leiria este evento desportivo uniu dezenas de atletas, ligando num percurso de 93Km a Praia da Vieira e a Barreira da Bica., com  percursos que variaram entre o mais pequeno da Praia da Vieira a Vieira (3 km), a percursos de 10 ou mais km.


A 1ª Estafeta começou a ser preparada à muitos meses, por "dois idiotas", João Fortunato (Alvitejo) e Rui Dinis (Vieirense) que, a pouco e pouco foram limando as arestas até chegar a este "produto final".

 A tarde de segunda feira, já em terras de Vieira, serviu para os dirigentes do Alvitejo e Vieirense, colocarem no papel todo o desenrolar da 1ª Estafeta Avieira, nada foi descurado, desde o local onde os

dez alvitejanos iam pernoitar (uns ficaram na casa do Rui Dinis, outros na residencial "O Farto"), à hora do pequeno almoço (servido pelas 6h 20m nas instalações do Industrial Vieirense), à pontualidade na partida (7h na Praia de Vieira de Leiria, junto ao barco) e, delineadas todas as transições e respetivos atletas intervenientes em cada um dos percursos.


A manhã apresentava-se chuvosa, no entanto os corajosos (as), lá se apresentaram na linha de partida pelas 7h, onde simbolicamente o presidente da Junta de Freguesia de Vieira de Leiria , sr Joaquim Vidal Tomé ,

entregou o testemunho (remo) ao nosso atleta Tomás Prudêncio ( a "mascote do clube"). Os primeiros três quilómetros que, ligaram o barco da praia de Vieira de Leiria , ao barco de Vieira de Leiria no registo de 18m 22s (não era competição, mas os pequenos e as senhoras correram depressa).

A segunda etapa ligava o barco de Vieira de Leiria à Marinha Grande, na distância de 14Km, com a transição a ser feita em frente à Câmara Municipal desta cidade, onde nos esperava o presidente Dr. Alvaro Pereira (entre outros representantes municipais).

A cidade vidreira, foi "alcançada" pelas 8h 20m (com um ligeiro atraso em relação à hora prevista). O terceiro percurso na distância da dupla légua ( e mais "uns pozes") , estava destinada aos "craques" do Alvitejo (Carlos Alves)  e do Vieirense (José Figueira) que, em apenas 39m 57s, ligaram a Câmara da Marinha Grande à povoação da Maceirinha, com a transição a acontecer junto da igreja local.

Com o horário a ser cumprido na perfeição, lá partiram mais uns "avieiros" para a quarta etapa, a ligar Maceirinha e a Calvaria (junto da igreja), na distância de 7Km, chegando mais uma vez dentro do horário estabelecido. De Calvaria a Porto de Mós (junto do posto de turismo), foi "um salto", com os dois

participantes a antingirem esta localidade com 20 minutos de avanço em relação à hora prevista, mas como aqui se juntavam mais uma dezena de participantes (que iriam fazer os restantes percursos), foi hora de repor energias com o belo do pão com chouriço, e a bebida fresquinha (a carrinha do Vieirense vinha "atestada"). Atingida sensivelmente metade da distância a percorrer, foi sugerido aos atletas que se tinham levantado cedo que, se deslocassem a Vale de Figueira, para se deliciarem com o almoço que, os esperava (caldo verde, feijoada e arroz doce), enquanto se iniciava a subida à serra na 6ª etapa deste desafio na


distância de 5Km , até ao cruzamento para Alcaria. Depois de subir, subir, subir...mais um desafio para a 7ª etapa, voltar a subir até Alvados (junto do café Alto) na distância de 5Km. Em plena serra, pelas 10h 45m


(com 30 minutos de avanço), existe necessidade de fazer o balanço e verificar como está a dercorrer o 3º
dia nacional do avieiro em Vale de Figueira, para isso é estabelecido o contato com o presidente da junta de Vale de Figueira, o senhor Manuel Cordeiro e o dinâmico José Gaspar. Tudo estava a dercorrer dentro do previsto, menos o "avanço" da estafeta em relação à hora prevista de transição, por isso o José Gaspar dá ordem para abrandar..."venham devagar, pois só podem chegar às 16h". E agora será sempre a descer até atingir a povoação de Minde, subindo depois (apenas 600m), até atingir o cruzamento para Alcanena numa distância de 13Km, neste 8º percurso.


 O andamento deste percurso foi tão vivo que, no cruzamento para Alcanena, os atletas chegaram pelas 11h, com precisamente uma hora de avanço.

O percurso seguinte, o 9º, ligava o cruzamento para Alcanena, com passagem por Videla (onde estava previsto passar pelas 12h 30m, com o grupo a ser "engrossado" junto do café Pintassilgo) até ao cruzamento para Casével na distância de 11000m. Estranhamente à passagem pelo café Pintassilgo na Videla, não estava ninguém para receber o testemunho na próxima etapa (com chegada mais à frente no cruzamento para Casével), pois pudera, tinha-se combinado com os atletas estarem por lá às 12h 30m e os "avieiros estavam a passar pelas 11h 55m. Tal , como os avieiros, também nós teriamos que, nos desenrascar, e foi isso que fizemos, voltamos para trás, com o testemunho e, às 13h lá partiram mais três atletas de Videla até ao cruzamento de Casével (onde alguns se deliciavam com as sandes, fruta e bebidas).

O 10º percurso que chegava a S. Vicente do Paúl, foi efetuado por um grupo numeroso (já tinham chegado os que, tinham almoçado pelas 11h 30m), na distãncia de 11Km, sendo que, na Póvoa de Casével, lá estava um atleta da APPACDM (André Moura) , para também ele dar o contributo a esta iniciativa.

Ponto da situação, à entrada para o último percurso , o 11º , a estafeta estava a partir neste local com 1h 30m de avanço...e, agora...resfria-se o andamento , tiram-se muitas fotos, telefona-se ao José Gaspar..."empata!". Como , não havia muita volta a dar, toca a partir pelas 14h 45m em direcção à Junta de Freguesia de Vale de Figueira, nas calmas tirando fotos e mais fotos (temos mais de 1500). À entrada de Vale de Figueira surge uma surpresa, o amigo Celestino do Vieirense, trajace a avieiro (o equipamento estava perfeito) e, leva consigo um grupo de mais de 40 atletas, até à sede da Junta de Freguesia (alcançada pelas 15h 15m), onde nos esperava um farto almoço. Pronto...ordem para avançar até à

Barreira da Bica, dada pelas 15h 45m, com o veteranissimo (com 77 anos), Fernando Cardoso (Alvitejo) a transportar o testemunho até ao final.


Colocado o remo na caixa estava concuida esta estafeta avieira na distância de 93Km!
Ah! sempre alerta estiveram as equipas de FISIOMASSAGEM / Alvitejo e os Bombeiros Voluntários de Vieira que, felizmente não tiveram necessidade de intervir.
Barreira da Bica, na freguesia de Vale de Figueira, é um lugar idílico, de um verde intenso na confluencia do Alviela com o Tejo. Aqui, existiu, em tempos não muito recuados, uma aldeia Avieira. Uma das muitas dezenas ao longo dos rios.


Presentemente, aqui, placas identificativas assinalam o sítio exato onde existiam as "barracas" - termo com que os avieiros designavam as casas palafíticas que construíam para fugir à impetuosidade das águas, sobretudo em época de cheias - e o nome dos seus habitantes. A vida que inicialmente, aquando da sua migração da Vieira para as águas do Tejo e do Sado, a partir do século XIX, era confinada ao espaço barco onde "nasciam e morriam", foi gradualmente instalando-se nas margens; as barracas cederam, pouco a pouco lugar às "casas" de madeira assente em estacas. O nosso imagético de "barraca" contrasta em muito com o colorido intenso das mesmas. Mas agora, importa sobretudo dar "corpo" aos passos corridos num percurso simbolicamente batizado de "Estafeta Avieira".
Antes de se instalarem de forma permanente nas margens do Tejo e do Sado, os avieiros realizavam este percurso sazonal de ida e volta, partindo da Vieira quando os rigores do inverno e a bravura do mar lhes dificultava as artes de pesca, e quantas vezes roubando-lhes a vida, vindo procurar nas águas mais calmas dos rios o sustento. Partiam depois para a praia de origem. Constituíram comunidades de uma cultura vincada, própria, a qual (roubando as palavras de Alves Redol) poderíamos comparar ao povo cigano, nómadas em terra. Os avieiros eram "ciganos do rio".
Foram ficando...E ficaram as marcas da sua cultura...E essa cultura é parte integrante da nossa identidade, "povos" da Lezíria e da Borda d´Água.
A Cultura Avieira está em fase de constituição de Candidatura a Parimónio Nacional e Imaterial da Unesco. "Descoberta" há alguns anos através de uma investigação no campo académico, rapidamente extravasou os limites desse estudo, agregando a si diversas áreas, entidades, associações e instituições. É um projeto de afetos e um projeto cativante. Cativa pela singularidade do seu objeto. Cria afetos pelos laços que se estabelecem e pela experiência completa de reviver os tempos árduos, mas simultaneamente felizes do povo avieiro.
A Estafeta, uma prova desportiva por etapas, privilegia o sentido de grupo, da luta da equipa pelo mesmo objetivo. Tal como os avieiros. Eram um grupo. Eram uma família. Eram uma comunidade. Hoje, tal como ontem, este sentido permanece, embora as condições de vida se tenham alterado. E para que esta cultura tão própria não morra, se passa "testemunho", se divulga e se preserva.
Na prova, o Testemunho passado de mão em mão, chegou à Barreira da Bica. Era um remo. Apenas um pequeno remo de madeira, réplica dos remos das bateiras que as mãos calejadas das mulheres avieiras manobravam.

Um prova em tudo simbólica, num dia igualmente simbólico de reencontro de avieiros, de convívio, de partilha e de reflexão. De renovação do firme propósito de fazer reviver a cultura dos "ciganos do rio". Para que a sua "vida" não morra e não morrendo, enriqueça a vida de todos quantos vivem. Hoje, amanhã e no futuro distante...
No próximo ano, a 2º Estafeta Avieira decorrerá, provavelmente, no sentido inverso "Barreira da Bica", ou outro lugar avieiro (Patacão, por exemplo) até Vieira de Leiria. Quem sabe, as duas equipas deste ano poderão ser multiplicadas por muitas outras. Gente amante do atletismo e apaixonada pelo nosso património, tangível e intangível.
Já nos imaginámos a fazer uma corrida de regresso ao passado? Pois foi o que aconteceu, ontem. Regressámos ao passado através dos passos de corrida dos atletas e de muitas outras atividades que não cabem, propriamente, numa crónica de corrida de uma pseudo atleta, emocionada na linha da Meta e de uma apaixonada pelos pescadores de Borda d´Água, na linha de Partida.
A todos os elementos organizadores e aos que apoiaram a sua concretização, sem esquecer o imenso trabalho voluntário desenvolvido, um agradecimento especial. Permitam sublinhar a ação dinamizadora do senhor José Gaspar, de Vale de Figueira e membro da Associação para a Promoção da Cultura Avieira.
Decorreu tudo (e foram várias as atividades) de forma excecional. Os sentimentos recorrentes eram "estou feliz" e "acredito no renascimento da cultura dos meus avós, dos meus pais e na recordação da minha meninice".

A Barreia da Bica não é só frescura, água e verde. Neste dia, foi corrida, peixe frito e pão caseiro, vinho tinto e muitas histórias de sorrisos.
Parabéns aos atletas. Parabéns à Organização. Reconhecidamente gratos aos apoios e patrocínios. Para o ano haverá mais! Contem connosco.
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