UTAX e Trail da Lousã‏



Na véspera, um dia fabuloso de Outono com sol.., no Sábado, dia das provas, chuva durante todo o período nocturno e diurno!..., no dia seguinte, sol e mais sol!..., e foi com estas condições metereológicas, aumentando o grau de dificuldade da progressão num terreno cheio de pedras, lama e muito escorregadio, com duras subidas e descidas, que se disputou a A #03 serie do circuito AXtrail 2012 na serra da Lousã, constituída por duas provas: o Ultra Trail das Aldeias do Xisto (UTAX) - 82 km, e o Trail da Lousã - 30 km, respectivamente com 5000 e 1800 metros de desnível, e graças às impiedosas agruras, com um punhado de desistências, felizmente sem consequências graves, e o que é de 'louvar' é que na sua maioria tiveram origem na reflexão e constatação do próprio atleta, em que a cabeça se sobrepôs ao coração/à vontade de continuar.
Os percursos tiveram troços comuns às duas provas, proporcionando encontros interessantes entre atletas, comparado o desencontro de andamentos e da kilometragem nas pernas de cada um, mas nos abastecimentos, apesar do cansaço e de todos 'encharcados', sempre houve lugar à troca de impressões e avaliações sumárias ao estado físico de cada um, dando mesmo para ver alguns a mudar de cor e a 'irem-se abaixo', aquando das mudas de roupa!... o corpo não perdoa as trocas bruscas de temperatura!....em especial quando a debilidade já se começa a sentir em condições extremas. Excelente clima de camaradagem e entre-ajuda entre todos os participantes, como é apanágio das provas de trail!..., em competição sim, mas sempre num ambiente saudável, até mesmo familiar, onde para além de cada um testar os seus limites, tem-se a certeza que ali ao lado está sempre alguém disposto a ajudar seja de que modo for, deixando para segundo plano a classificação!... Paisagens soberbas, este ano com novas perspectivas graças ao bendito nevoeiro, que quando descíamos as encostas pelo meio dos terrenos cheios de castanheiros(aqueles soutos são de cortar a respiração), nos proporcionavam aquelas vistas fabulosas das copas das árvores numa miscelânea de tons de amarelos, encarnados e castanhos, tudo envolvido ao redor em algodão!..., e com aquele fundo escuro como bréu... simplesmente fantástico, mágico mesmo, para quem teve o privilégio de se deleitar com pitéus assim!... ribeiros, levadas, precipícios (foi giro vêr tudo em fila indiana, a olhar para a direita, evitando enfrentar as alturas!..., neste caso o fundo das ravinas!
E no Trail da Lousã, com passagem pelo Candal e Talasnal, o Miguel Reis e Silva efectuou a distância em 02:59:04, seguido do Albino Magalhães e do José Carvalho, respectivamente a 2' 46'' e a 2' 48'', sendo igualmente os três primeiros seniores. Em Vet I, o António Silvino foi o primeiro a chegar à meta com o tempo de 03:24:02, ficando nos lugares imediatos o Carlos Valente e o António Amador. Já no escalão de VetII, a classificação foi a seguinte: 1º José Carlos Santos com 03:46:11,

2º Arsénio Fernandes com 04:24:11, 3º José Pereira com 04:29:17, 4º Vitorino Coragem e em 5º o nosso Manuel Victorino com 04:50:28. Na geral feminina, as três primeiras foram as veteranas Anabela Duque, Cláudia Medeiros e Isabel Moleiro, seguidas das seniores Susana Neta, Joana Leite e Regina Fernandes,

tendo a alvitejana Antonieta Sá ficado num excelente 7º lugar (4º VetFem) com 05:37:02. A rapariga tem treinado!... Terminaram 228 atletas.
Quanto ao UTAX, ainda lhe surgiram pela frente as 'xistosas' Aigras Nova e Velha, Coentral, Srª da Piedade de Tábuas e Espinho (os primeiros foram os três seniores Armando Teixeira com 09:24:00:30, seguido do Nuno Silva a 20' e 50'' e do Luís Duarte a 44' e 40'', tendo o Pedro Marques, Marcolino Veríssimo e José Pereira sido os três primeiros Vet I; o trio da frente em Vet II foram o Jorge Serrazina, Angelo Pereira e José Capela, já no sector feminino a Susana Simões levou a melhor sobre a concorrência, à frente da Natércia Silvestre e da Júlia Conceição), o Francisco Gaio (espectacular 24º da geral e 7º VET I, com 13:14:25:30) saíu às seis da manhã, ainda de noite, e acabou por chegar também de noite..., eu bem que perguntava por ele nos postos de controlo, mas nada!...
...e, pelas 06:00 lá estávamos à espera que fosse dado o sinal de partida, como já vem sendo habitual, foi a contagem decrescente cantada pelo Moutinho do 5 até partida... e lá fomos à descoberta da aventura, sabíamos das dificuldades que iríamos encontrar, pois foi-nos avisado várias vezes, da chuva, lama, água, das grandes subidas e descidas e mais ainda o frio, mas mesmo assim fomos com muita vontade para terminar. Parte inicial idêntica à do K42 até ao Candal... onde estava instalado o 1º. abastecimento, com a passagem pela levada de água, este ano ia quase cheia e do outro lado as ravinas...Seguindo, sempre a subir, em direção a Cerdeira e aí chegámos aos aerogeradores de Vilarinho e Trevim, ponto mais alto da Serra - 1205 m, para seguirmos em direcção a Góis e às aldeias de Aigra Velha e Nova onde estava instalado o 2º. abastecimento; come-se qualquer coisa rápida, e ala que ainda há muitos kms e horas para palmilhar... direção ao Penedos de Góis, para mais adiante entrar-mos no território de Castanheira de Pêra, Capela de Santo António e Poços de Neve, descida até Coentral, pelo famoso single track do K42, muito frio nesta zona..., aqui o 3º. abastecimento, seguindo-se para Talasnal, próximo abastecimento, onde havia roupa seca e troca de calçado, para quem queria..., entramos numa mata, parecia daqueles filmes dos cavaleiros, não se via quase nada muita chuva e nevoeiro, sempre a subir, até que numa descida louca, começou a aparecer pessoal de todos os lados, pareciam que tinham caído do céu, uns sentados a escorregar, outros agarrados às árvores grandes quedas e loucura .. era aqui que se juntava o pessoal das duas provas, ver alguns amigos que se levantaram mais tarde, outros nunca os cheguei a ver, foi o caso do dorsal 111, foi sempre à minha frente, ia deixando recados aos senhores e às miúdas dos abastecimentos, "...diga ao 110 que o 111 já passou!..." e no percurso ia metendo pedras para o 110 tropeçar e cair, já tinha dado poucas quedas... e finalmente chegado ao abastecimento 4 - 45 kms, assim que disse nº do dorsal, disseram-me logo "... o 111 já passou!...", tempo para tomar uma canja e um chá e fazer-me à estrada, desta vez na companhia de um grande amigo destas andanças, Pedro Pinho e lá fomos nós, também o Manuel Vitorino nos acompanhou um pouco e mais alguns participantes do trail..., grande subida esta, aqui cruzamos-nos com os caminheiros e lá seguimos até ao 5º. abastecimento, estrada das aldeias, separação das provas)... a Antonieta nunca a avistei, só quando terminei lá estava ela à minha espera...
Depois desta separação já ao km 52, só faltavam 30..., até ao próximo abastecimento foi feito em estradão, dava para ir correndo, subida ao parque eólico, as grandes antenas a 10m e nós não as víamos, com o nevoeiro que estava..., e finalmente após umas grandes descidas, todo o cuidado aqui era pouco, não conseguíamos parar, aqui já era mais fácil subir do que descer e por fim chegados ao abastecimento de Srª. da Piedade de Tábuas, 62 kms, acho que eram mais..., mas também não interessa e partimos para continuar, numa das zonas do percurso, mais difícil, tinha tanto de dureza como de beleza, é aqui que fica a famosa cascata, já lá tinha passado em Janeiro, na dos Abutres, mas desta vez ia com mais calma deu pra ver melhor e apreciar... já não era capaz de fazer melhor... andar e descansar nas subidas... e correr até ao 7º. abastecimento, Espinho, restaurante Ti Patamar, onde tinha estado a jantar no dia anterior...., desta vez só tomei um café, e vamos para a última, aqui já era noite e continuava a chover, mais uma subida que nunca mais acabava, só eu, a chuva e as fitas reflectoras..., notava-se que era a subir, porque não conseguia ver... chegado ao cimo do monte era altura para descer porque a Lousã estava mesmo ali, mas ainda faltava um pouco pra lá chegar... depois de mais uns trilhos a descer e mais uma vez junto a uma linha de água, ou ribeiro, via-se mal e o frontal com o nevoeiro e a respiração, pouco se via... até que entrei numa estrada de alcatrão e uma povoação e lá fui até à meta...
Após 13:14', acho que cumpri com o meu dever... não consegui fazer melhor, os meus joelhos e pés ajudam pouco, são muitas dores.
Percurso espetacular como todos fazem referência... dia de inverno, frio e chuva o que origina muita lama, rochas escorregadias e muitas quedas à mistura..., mesmo assim gostei.
Até pró ano... Parabéns a todos os participantes... é preciso coragem... iniciaram cerca de 150 e terminaram 110.
Ah!..Ah!..Ah!... e só chegaram 110 (dorsal do Francisco Gaio)..., que coincidência hein!..., mas também não chegaram 111 (o meu dorsal) porque me passei para o Trail da Lousã!...

Por Arsénio Fernandes e Francisco Gaio (atletas do Alvitejo)
Reviewed by C.C.D. "O Alvitejo" on 16.11.12 Rating: 5